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Uso de Desfibriladores Externos Automáticos (DEA): Tudo o que Você Precisa Saber

18 Dez 2022
Dr. Carlos Felipe
Equipamentos

Ligue para o SAMU (192) imediatamente!

Em caso de parada cardíaca, ligue para o SAMU antes de iniciar os procedimentos. O uso do DEA é complementar à RCP e ao atendimento médico especializado.

Desfibrilador Externo Automático (DEA)

O Desfibrilador Externo Automático (DEA) é um equipamento médico portátil capaz de analisar o ritmo cardíaco e, se necessário, aplicar um choque elétrico para restabelecer o funcionamento normal do coração em casos de parada cardíaca. Seu uso precoce, combinado com a Reanimação Cardiopulmonar (RCP), pode aumentar significativamente as chances de sobrevivência de uma pessoa em parada cardíaca.

Sabia que?

A cada minuto que passa sem desfibrilação, as chances de sobrevivência de uma pessoa em parada cardíaca diminuem em 7-10%. Com o uso do DEA nos primeiros 3-5 minutos, as taxas de sobrevivência podem chegar a 50-70%.

O que é um DEA e como ele funciona?

O DEA é um dispositivo eletrônico portátil projetado para ser usado por pessoas com pouco ou nenhum treinamento médico. Ele analisa automaticamente o ritmo cardíaco da vítima e determina se um choque elétrico é necessário para restabelecer um ritmo cardíaco eficaz.

O equipamento funciona identificando dois tipos específicos de arritmias cardíacas que podem causar parada cardíaca: a fibrilação ventricular (quando o coração "treme" de forma desorganizada) e a taquicardia ventricular sem pulso (batimentos cardíacos extremamente rápidos e ineficazes). Ambas as condições podem ser tratadas com um choque elétrico controlado.

Quando usar um DEA?

O DEA deve ser usado quando uma pessoa:

  • Está inconsciente (não responde quando chamada ou tocada)
  • Não está respirando ou apresenta respiração anormal (gasping)
  • Não tem pulso detectável

Estes são sinais de parada cardíaca, uma condição em que o coração para de bombear sangue efetivamente para o corpo. A parada cardíaca é diferente do ataque cardíaco (infarto), embora um ataque cardíaco possa levar a uma parada cardíaca.

Passo a passo para usar um DEA

  1. Verifique se a pessoa está em parada cardíaca: Certifique-se de que a pessoa está inconsciente, não respira normalmente e não tem pulso.
  2. Ligue para o SAMU (192): Peça a alguém para ligar enquanto você inicia a RCP e prepara o DEA. Se estiver sozinho, ligue você mesmo antes de iniciar os procedimentos.
  3. Inicie a RCP: Comece as compressões torácicas enquanto o DEA é buscado ou preparado.
  4. Ligue o DEA: A maioria dos dispositivos tem um botão de ligar/desligar bem visível. Ao ser ligado, o DEA fornecerá instruções por voz.
  5. Exponha o tórax da vítima: Remova ou corte roupas que cubram o peito da pessoa. O tórax deve estar seco. Se estiver molhado, seque-o rapidamente.
  6. Conecte as pás (eletrodos) ao DEA: Retire a proteção das pás adesivas e cole-as no tórax da vítima conforme indicado nas figuras das próprias pás. Geralmente, uma pá vai no lado direito superior do tórax (abaixo da clavícula) e a outra no lado esquerdo inferior (na lateral do tórax).
  7. Conecte o cabo das pás ao DEA: Se não estiver pré-conectado.
  8. Afaste-se e deixe o DEA analisar o ritmo cardíaco: O aparelho avisará para não tocar na vítima durante a análise. Certifique-se de que ninguém está tocando a vítima neste momento.
  9. Se o choque for indicado: O DEA avisará que um choque é necessário e se carregará automaticamente. Ele instruirá todos a se afastarem da vítima. Certifique-se de que ninguém está tocando a vítima e pressione o botão de choque quando o aparelho indicar.
  10. Se o choque não for indicado: O DEA informará que o choque não é recomendado. Neste caso, continue imediatamente com a RCP.
  11. Retome a RCP: Após o choque (ou se nenhum choque for indicado), retome imediatamente as compressões torácicas e continue a RCP por 2 minutos (cerca de 5 ciclos de 30 compressões e 2 ventilações).
  12. Permita que o DEA reavalie: Após 2 minutos de RCP, o DEA solicitará uma nova análise do ritmo cardíaco. Siga as instruções do aparelho.
  13. Continue até a chegada do socorro: Alterne entre RCP e análises do DEA até que o socorro médico chegue, a vítima comece a se movimentar ou respirar normalmente, ou você esteja exausto demais para continuar.

Dicas importantes:

  • Não use o DEA se a vítima estiver em contato com água. Mova-a para um local seco antes de usar o equipamento.
  • Não use o DEA se a vítima tiver um marca-passo ou desfibrilador implantado visível (geralmente há uma protuberância sob a pele no peito). Neste caso, não coloque as pás diretamente sobre o dispositivo, mas ao lado.
  • Para crianças menores de 8 anos ou com menos de 25 kg, use pás pediátricas se disponíveis. Se não houver, use as pás para adultos.
  • Remova adesivos medicamentosos (como patches de nicotina ou medicamentos) antes de aplicar as pás do DEA.
  • Se a vítima tiver pelos excessivos no tórax que impeçam a aderência das pás, use as tesouras geralmente incluídas no kit do DEA para raspar os pelos antes de aplicar as pás.
  • Mantenha-se atualizado sobre a localização dos DEAs em locais públicos que você frequenta, como shopping centers, academias, aeroportos e estádios.

Situações especiais no uso do DEA

Uso em crianças

Para crianças com menos de 8 anos ou pesando menos de 25 kg, o ideal é usar pás pediátricas ou um modo pediátrico, se disponível. Estas pás reduzem a energia do choque para níveis apropriados para crianças. Se não houver pás pediátricas disponíveis, use as pás para adultos, posicionando-as de forma a não se sobreporem (uma no peito e outra nas costas, se necessário).

Uso em gestantes

O DEA pode e deve ser usado em gestantes em parada cardíaca. A sobrevivência tanto da mãe quanto do bebê depende da rápida restauração da circulação materna. Posicione as pás normalmente, como em qualquer adulto.

Uso em ambientes molhados

Se a vítima estiver molhada (por exemplo, resgatada de afogamento), seque rapidamente o tórax antes de aplicar as pás. Certifique-se de que a vítima não esteja deitada em uma poça d'água. Se necessário, mova-a para uma superfície seca.

Manutenção e verificação do DEA

Os DEAs são projetados para serem de baixa manutenção, mas verificações regulares são essenciais para garantir seu funcionamento adequado em uma emergência:

  • Verifique regularmente o indicador de status do DEA (geralmente uma luz verde ou vermelha) para confirmar que está pronto para uso
  • Verifique a data de validade das pás e substitua-as quando necessário
  • Verifique a bateria e substitua-a conforme recomendado pelo fabricante
  • Mantenha o DEA limpo e livre de poeira
  • Armazene o DEA em local acessível, seco e à temperatura ambiente

Onde encontrar DEAs

No Brasil, a legislação tem avançado para tornar obrigatória a presença de DEAs em locais de grande circulação de pessoas. Você pode encontrar DEAs em:

  • Shopping centers
  • Aeroportos e estações de metrô/trem
  • Estádios e ginásios esportivos
  • Academias de ginástica
  • Escolas e universidades
  • Hotéis
  • Empresas com grande número de funcionários
  • Órgãos públicos

Os DEAs geralmente são identificados por um símbolo internacional: um coração com um raio no meio. Familiarize-se com a localização dos DEAs nos lugares que você frequenta regularmente.

Aspectos legais do uso do DEA

No Brasil, a Lei do Bom Samaritano (incluída no Código Penal) protege as pessoas que prestam socorro em situações de emergência, desde que ajam de boa-fé e dentro de suas capacidades. Isso inclui o uso de DEAs por leigos.

Além disso, várias leis estaduais e municipais regulamentam a instalação e manutenção de DEAs em locais públicos. É importante que estabelecimentos que possuam DEAs mantenham seus funcionários treinados para utilizá-los corretamente.

Treinamento em DEA

Embora os DEAs sejam projetados para serem usados por leigos, o treinamento aumenta a confiança e a eficácia no uso do equipamento em situações de emergência. Cursos de primeiros socorros e suporte básico de vida geralmente incluem treinamento em RCP e uso do DEA.

Instituições como a Cruz Vermelha, o SAMU, o Corpo de Bombeiros e diversas empresas privadas oferecem cursos de capacitação. Muitos desses cursos são de curta duração (4-8 horas) e podem literalmente fazer a diferença entre a vida e a morte em uma situação de emergência.

Conclusão

O Desfibrilador Externo Automático é uma ferramenta vital na cadeia de sobrevivência para casos de parada cardíaca. Seu uso precoce, combinado com RCP de qualidade e acionamento rápido do serviço médico de emergência, pode aumentar significativamente as chances de sobrevivência da vítima.

Familiarizar-se com o uso do DEA e saber onde encontrá-lo em locais públicos são passos importantes para estar preparado para agir em uma emergência cardíaca. Lembre-se: em uma parada cardíaca, cada minuto conta, e sua ação pode salvar uma vida.

Fontes

  • AMERICAN HEART ASSOCIATION. Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. 2020.
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência. 2019.
  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Primeiros Socorros. Fundação Oswaldo Cruz, 2021.
  • EUROPEAN RESUSCITATION COUNCIL. Guidelines for Resuscitation. 2021.

Aviso: As informações contidas neste site são apenas para fins educacionais e não substituem orientação médica profissional. Embora nos esforcemos para fornecer informações precisas e atualizadas, não nos responsabilizamos pelo uso das informações aqui contidas. Em caso de emergência, sempre busque atendimento médico imediato.

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