Como Realizar a RCP em Crianças: Passo a Passo Simplificado
Ligue para o SAMU (192) imediatamente!
Em caso de parada cardiorrespiratória em uma criança, peça a alguém para ligar para o SAMU enquanto você inicia a RCP. Se estiver sozinho, realize 2 minutos de RCP antes de ligar.
A Reanimação Cardiopulmonar (RCP) em crianças difere da técnica utilizada em adultos em vários aspectos importantes. Conhecer essas diferenças e saber como aplicar corretamente a RCP pediátrica pode salvar a vida de uma criança em situação de emergência. Este guia oferece instruções claras e simplificadas para realizar a RCP em crianças de diferentes faixas etárias.
Importante!
Para fins de RCP, considera-se:
- Bebê: do nascimento até 1 ano de idade
- Criança: de 1 ano até a puberdade (aproximadamente 12-14 anos)
- Adulto: a partir da puberdade
Por que a parada cardíaca em crianças é diferente?
Diferentemente dos adultos, em que a parada cardíaca geralmente ocorre por problemas cardíacos primários, nas crianças a causa mais comum é a insuficiência respiratória. Isso significa que a criança geralmente para de respirar primeiro, e depois o coração para de bater devido à falta de oxigênio. Por isso, a ventilação (respiração boca-a-boca) tem um papel ainda mais importante na RCP pediátrica.
Outras diferenças importantes incluem:
- O tamanho e a anatomia do corpo da criança
- A frequência cardíaca normal mais elevada em crianças
- A maior fragilidade da caixa torácica infantil
- As causas mais comuns de parada cardiorrespiratória
Como identificar uma parada cardiorrespiratória em crianças
Antes de iniciar a RCP, é fundamental verificar se a criança realmente está em parada cardiorrespiratória. Siga estes passos:
- Verifique a resposta: Toque nos ombros da criança e chame-a em voz alta. Em bebês, toque suavemente nos pés ou nas mãos.
- Verifique a respiração: Observe se o peito se move, ouça e sinta a respiração aproximando seu rosto da boca e nariz da criança por até 10 segundos. Procure por respiração normal, não apenas gasping (respiração agônica).
- Verifique o pulso: Em crianças maiores de 1 ano, verifique o pulso carotídeo (no pescoço). Em bebês menores de 1 ano, verifique o pulso braquial (na parte interna do braço, entre o cotovelo e a axila). Verifique por até 10 segundos.
Se a criança não responde, não respira normalmente e não tem pulso (ou você não tem certeza), inicie a RCP imediatamente.
RCP em crianças (1 a 12 anos): Passo a passo
- Garanta a segurança: Certifique-se de que o local é seguro para você e para a criança.
- Verifique a resposta e a respiração: Conforme descrito acima.
- Peça ajuda: Se houver outra pessoa presente, peça para ligar para o SAMU (192) e buscar um DEA (Desfibrilador Externo Automático), se disponível. Se estiver sozinho, realize 2 minutos de RCP (cerca de 5 ciclos) antes de ligar para o SAMU.
- Posicione a criança: Coloque a criança deitada de costas em uma superfície firme e plana.
- Abra as vias aéreas: Incline suavemente a cabeça para trás e eleve o queixo. Tenha cuidado para não inclinar demais a cabeça, pois isso pode bloquear as vias aéreas em crianças pequenas.
- Inicie as compressões torácicas:
- Posicione a base de uma mão no centro do peito da criança, entre os mamilos
- Para crianças menores, você pode usar apenas uma mão. Para crianças maiores, você pode precisar usar as duas mãos, como em adultos
- Mantenha os braços esticados e os ombros diretamente acima das mãos
- Comprima o tórax a uma profundidade de aproximadamente 5 cm (ou 1/3 da profundidade do tórax)
- Permita o retorno completo do tórax após cada compressão
- Realize as compressões a uma frequência de 100-120 por minuto
- Realize as ventilações: Após 30 compressões, realize 2 ventilações:
- Mantenha a cabeça inclinada e o queixo elevado
- Feche o nariz da criança com os dedos
- Inspire normalmente e cubra a boca da criança com a sua, criando uma vedação
- Sopre ar por 1 segundo, observando se o peito se eleva
- Permita que o ar saia antes de dar a segunda ventilação
- Continue a RCP: Alterne 30 compressões com 2 ventilações. Se houver mais de um socorrista, podem alternar 15 compressões com 2 ventilações.
- Use o DEA se disponível: Assim que o DEA chegar, ligue-o e siga as instruções de voz. Use pás pediátricas se disponíveis para crianças menores de 8 anos.
- Continue até: A chegada do socorro médico, a criança começar a se movimentar ou respirar normalmente, ou você ficar exausto demais para continuar.
RCP em bebês (menores de 1 ano): Passo a passo
A RCP em bebês tem algumas diferenças importantes em relação à técnica usada em crianças maiores:
- Verifique a resposta e a respiração: Toque suavemente nos pés ou nas mãos do bebê e observe se há resposta. Verifique a respiração como descrito anteriormente.
- Verifique o pulso braquial: Coloque dois dedos na parte interna do braço do bebê, entre o cotovelo e a axila.
- Posicione o bebê: Coloque o bebê deitado de costas em uma superfície firme. Você pode apoiar o bebê em seu antebraço ou coxa se estiver sozinho.
- Abra as vias aéreas: Coloque o bebê em posição neutra (nem flexionada nem estendida demais). Uma pequena toalha enrolada sob os ombros pode ajudar.
- Realize as compressões torácicas:
- Use dois dedos (indicador e médio) posicionados no centro do peito, logo abaixo da linha dos mamilos
- Alternativamente, você pode envolver o tórax do bebê com as mãos e usar os polegares para as compressões (técnica dos dois polegares)
- Comprima o tórax a uma profundidade de aproximadamente 4 cm (ou 1/3 da profundidade do tórax)
- Realize as compressões a uma frequência de 100-120 por minuto
- Realize as ventilações: Após 30 compressões, realize 2 ventilações:
- Mantenha a cabeça em posição neutra
- Cubra a boca e o nariz do bebê com a sua boca
- Sopre suavemente por 1 segundo, apenas o suficiente para fazer o peito se elevar
- Continue a RCP: Alterne 30 compressões com 2 ventilações. Se houver mais de um socorrista, podem alternar 15 compressões com 2 ventilações.
Dicas importantes:
- Nunca sacuda um bebê ou criança para verificar a resposta
- Não comprima com força excessiva, pois a caixa torácica infantil é mais frágil
- Não interrompa as compressões por mais de 10 segundos, exceto para usar o DEA
- Se não conseguir ou não quiser fazer ventilações, realize pelo menos as compressões torácicas
- Troque de socorrista a cada 2 minutos, se possível, para evitar a fadiga
RCP apenas com as mãos (sem ventilação)
Se você não puder ou não quiser realizar a ventilação boca-a-boca, a RCP apenas com as mãos (só compressões) é melhor do que não fazer nada. No entanto, em crianças, como a causa da parada cardíaca geralmente é respiratória, a RCP completa (com ventilações) é mais eficaz.
Para realizar a RCP apenas com as mãos:
- Posicione as mãos como descrito anteriormente
- Realize compressões contínuas a uma frequência de 100-120 por minuto
- Mantenha as compressões até a chegada do socorro médico
Uso do DEA em crianças
O Desfibrilador Externo Automático (DEA) pode ser usado em crianças de todas as idades. Siga estas orientações:
- Para crianças menores de 8 anos, use pás pediátricas ou o modo pediátrico, se disponível
- Se não houver pás pediátricas, use as pás para adultos
- Siga as instruções de voz do DEA
- Certifique-se de que ninguém está tocando a criança durante a análise do ritmo e a aplicação do choque
- Retome a RCP imediatamente após o choque ou se nenhum choque for indicado
Causas comuns de parada cardiorrespiratória em crianças
Conhecer as causas mais comuns pode ajudar na prevenção e no reconhecimento precoce de situações de risco:
- Problemas respiratórios: Asfixia, afogamento, pneumonia grave, asma severa
- Lesões traumáticas: Acidentes de trânsito, quedas, traumatismo craniano
- Choque: Desidratação grave, hemorragia, infecção grave (sepse)
- Intoxicações: Medicamentos, produtos de limpeza, pesticidas
- Problemas cardíacos: Menos comuns, mas podem incluir arritmias e cardiopatias congênitas
- Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI): Em bebês menores de 1 ano
Prevenção de parada cardiorrespiratória em crianças
A maioria das paradas cardíacas em crianças pode ser prevenida com medidas simples:
- Supervisione as crianças durante o banho e perto de piscinas ou outros corpos d'água
- Mantenha pequenos objetos, alimentos que podem causar engasgo e medicamentos fora do alcance de crianças pequenas
- Use equipamentos de segurança apropriados (cadeirinhas no carro, capacetes para bicicleta, etc.)
- Instale grades de proteção em janelas, escadas e piscinas
- Mantenha produtos tóxicos em armários trancados
- Aprenda a reconhecer sinais de dificuldade respiratória em crianças
- Para bebês, siga as recomendações para prevenção da SMSI (colocar para dormir de barriga para cima, em superfície firme, sem objetos soltos no berço)
Conclusão
A RCP pediátrica tem diferenças importantes em relação à RCP em adultos. Conhecer essas diferenças e saber aplicar a técnica correta pode salvar a vida de uma criança em situação de emergência. Lembre-se de que a RCP é uma habilidade que requer prática. Considere fazer um curso de primeiros socorros pediátricos para estar melhor preparado.
Em caso de emergência, mantenha a calma, peça ajuda e inicie a RCP o mais rápido possível. Mesmo que você não se lembre de todos os detalhes, lembre-se de que qualquer RCP é melhor do que nenhuma RCP.
Fontes
- AMERICAN HEART ASSOCIATION. Pediatric Advanced Life Support Provider Manual. 2020.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Suporte Básico de Vida em Pediatria. 2021.
- EUROPEAN RESUSCITATION COUNCIL. Pediatric Life Support Guidelines. 2021.
- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Atendimento à Criança em Situações de Emergência. 2022.
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