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Como Realizar a RCP em Crianças: Passo a Passo Simplificado

03 Dez 2022
Dr. Carlos Felipe
Pediatria

Ligue para o SAMU (192) imediatamente!

Em caso de parada cardiorrespiratória em uma criança, peça a alguém para ligar para o SAMU enquanto você inicia a RCP. Se estiver sozinho, realize 2 minutos de RCP antes de ligar.

RCP em crianças

A Reanimação Cardiopulmonar (RCP) em crianças difere da técnica utilizada em adultos em vários aspectos importantes. Conhecer essas diferenças e saber como aplicar corretamente a RCP pediátrica pode salvar a vida de uma criança em situação de emergência. Este guia oferece instruções claras e simplificadas para realizar a RCP em crianças de diferentes faixas etárias.

Importante!

Para fins de RCP, considera-se:

  • Bebê: do nascimento até 1 ano de idade
  • Criança: de 1 ano até a puberdade (aproximadamente 12-14 anos)
  • Adulto: a partir da puberdade

Por que a parada cardíaca em crianças é diferente?

Diferentemente dos adultos, em que a parada cardíaca geralmente ocorre por problemas cardíacos primários, nas crianças a causa mais comum é a insuficiência respiratória. Isso significa que a criança geralmente para de respirar primeiro, e depois o coração para de bater devido à falta de oxigênio. Por isso, a ventilação (respiração boca-a-boca) tem um papel ainda mais importante na RCP pediátrica.

Outras diferenças importantes incluem:

  • O tamanho e a anatomia do corpo da criança
  • A frequência cardíaca normal mais elevada em crianças
  • A maior fragilidade da caixa torácica infantil
  • As causas mais comuns de parada cardiorrespiratória

Como identificar uma parada cardiorrespiratória em crianças

Antes de iniciar a RCP, é fundamental verificar se a criança realmente está em parada cardiorrespiratória. Siga estes passos:

  1. Verifique a resposta: Toque nos ombros da criança e chame-a em voz alta. Em bebês, toque suavemente nos pés ou nas mãos.
  2. Verifique a respiração: Observe se o peito se move, ouça e sinta a respiração aproximando seu rosto da boca e nariz da criança por até 10 segundos. Procure por respiração normal, não apenas gasping (respiração agônica).
  3. Verifique o pulso: Em crianças maiores de 1 ano, verifique o pulso carotídeo (no pescoço). Em bebês menores de 1 ano, verifique o pulso braquial (na parte interna do braço, entre o cotovelo e a axila). Verifique por até 10 segundos.

Se a criança não responde, não respira normalmente e não tem pulso (ou você não tem certeza), inicie a RCP imediatamente.

RCP em crianças (1 a 12 anos): Passo a passo

  1. Garanta a segurança: Certifique-se de que o local é seguro para você e para a criança.
  2. Verifique a resposta e a respiração: Conforme descrito acima.
  3. Peça ajuda: Se houver outra pessoa presente, peça para ligar para o SAMU (192) e buscar um DEA (Desfibrilador Externo Automático), se disponível. Se estiver sozinho, realize 2 minutos de RCP (cerca de 5 ciclos) antes de ligar para o SAMU.
  4. Posicione a criança: Coloque a criança deitada de costas em uma superfície firme e plana.
  5. Abra as vias aéreas: Incline suavemente a cabeça para trás e eleve o queixo. Tenha cuidado para não inclinar demais a cabeça, pois isso pode bloquear as vias aéreas em crianças pequenas.
  6. Inicie as compressões torácicas:
    • Posicione a base de uma mão no centro do peito da criança, entre os mamilos
    • Para crianças menores, você pode usar apenas uma mão. Para crianças maiores, você pode precisar usar as duas mãos, como em adultos
    • Mantenha os braços esticados e os ombros diretamente acima das mãos
    • Comprima o tórax a uma profundidade de aproximadamente 5 cm (ou 1/3 da profundidade do tórax)
    • Permita o retorno completo do tórax após cada compressão
    • Realize as compressões a uma frequência de 100-120 por minuto
  7. Realize as ventilações: Após 30 compressões, realize 2 ventilações:
    • Mantenha a cabeça inclinada e o queixo elevado
    • Feche o nariz da criança com os dedos
    • Inspire normalmente e cubra a boca da criança com a sua, criando uma vedação
    • Sopre ar por 1 segundo, observando se o peito se eleva
    • Permita que o ar saia antes de dar a segunda ventilação
  8. Continue a RCP: Alterne 30 compressões com 2 ventilações. Se houver mais de um socorrista, podem alternar 15 compressões com 2 ventilações.
  9. Use o DEA se disponível: Assim que o DEA chegar, ligue-o e siga as instruções de voz. Use pás pediátricas se disponíveis para crianças menores de 8 anos.
  10. Continue até: A chegada do socorro médico, a criança começar a se movimentar ou respirar normalmente, ou você ficar exausto demais para continuar.

RCP em bebês (menores de 1 ano): Passo a passo

A RCP em bebês tem algumas diferenças importantes em relação à técnica usada em crianças maiores:

  1. Verifique a resposta e a respiração: Toque suavemente nos pés ou nas mãos do bebê e observe se há resposta. Verifique a respiração como descrito anteriormente.
  2. Verifique o pulso braquial: Coloque dois dedos na parte interna do braço do bebê, entre o cotovelo e a axila.
  3. Posicione o bebê: Coloque o bebê deitado de costas em uma superfície firme. Você pode apoiar o bebê em seu antebraço ou coxa se estiver sozinho.
  4. Abra as vias aéreas: Coloque o bebê em posição neutra (nem flexionada nem estendida demais). Uma pequena toalha enrolada sob os ombros pode ajudar.
  5. Realize as compressões torácicas:
    • Use dois dedos (indicador e médio) posicionados no centro do peito, logo abaixo da linha dos mamilos
    • Alternativamente, você pode envolver o tórax do bebê com as mãos e usar os polegares para as compressões (técnica dos dois polegares)
    • Comprima o tórax a uma profundidade de aproximadamente 4 cm (ou 1/3 da profundidade do tórax)
    • Realize as compressões a uma frequência de 100-120 por minuto
  6. Realize as ventilações: Após 30 compressões, realize 2 ventilações:
    • Mantenha a cabeça em posição neutra
    • Cubra a boca e o nariz do bebê com a sua boca
    • Sopre suavemente por 1 segundo, apenas o suficiente para fazer o peito se elevar
  7. Continue a RCP: Alterne 30 compressões com 2 ventilações. Se houver mais de um socorrista, podem alternar 15 compressões com 2 ventilações.

Dicas importantes:

  • Nunca sacuda um bebê ou criança para verificar a resposta
  • Não comprima com força excessiva, pois a caixa torácica infantil é mais frágil
  • Não interrompa as compressões por mais de 10 segundos, exceto para usar o DEA
  • Se não conseguir ou não quiser fazer ventilações, realize pelo menos as compressões torácicas
  • Troque de socorrista a cada 2 minutos, se possível, para evitar a fadiga

RCP apenas com as mãos (sem ventilação)

Se você não puder ou não quiser realizar a ventilação boca-a-boca, a RCP apenas com as mãos (só compressões) é melhor do que não fazer nada. No entanto, em crianças, como a causa da parada cardíaca geralmente é respiratória, a RCP completa (com ventilações) é mais eficaz.

Para realizar a RCP apenas com as mãos:

  • Posicione as mãos como descrito anteriormente
  • Realize compressões contínuas a uma frequência de 100-120 por minuto
  • Mantenha as compressões até a chegada do socorro médico

Uso do DEA em crianças

O Desfibrilador Externo Automático (DEA) pode ser usado em crianças de todas as idades. Siga estas orientações:

  • Para crianças menores de 8 anos, use pás pediátricas ou o modo pediátrico, se disponível
  • Se não houver pás pediátricas, use as pás para adultos
  • Siga as instruções de voz do DEA
  • Certifique-se de que ninguém está tocando a criança durante a análise do ritmo e a aplicação do choque
  • Retome a RCP imediatamente após o choque ou se nenhum choque for indicado

Causas comuns de parada cardiorrespiratória em crianças

Conhecer as causas mais comuns pode ajudar na prevenção e no reconhecimento precoce de situações de risco:

  • Problemas respiratórios: Asfixia, afogamento, pneumonia grave, asma severa
  • Lesões traumáticas: Acidentes de trânsito, quedas, traumatismo craniano
  • Choque: Desidratação grave, hemorragia, infecção grave (sepse)
  • Intoxicações: Medicamentos, produtos de limpeza, pesticidas
  • Problemas cardíacos: Menos comuns, mas podem incluir arritmias e cardiopatias congênitas
  • Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI): Em bebês menores de 1 ano

Prevenção de parada cardiorrespiratória em crianças

A maioria das paradas cardíacas em crianças pode ser prevenida com medidas simples:

  • Supervisione as crianças durante o banho e perto de piscinas ou outros corpos d'água
  • Mantenha pequenos objetos, alimentos que podem causar engasgo e medicamentos fora do alcance de crianças pequenas
  • Use equipamentos de segurança apropriados (cadeirinhas no carro, capacetes para bicicleta, etc.)
  • Instale grades de proteção em janelas, escadas e piscinas
  • Mantenha produtos tóxicos em armários trancados
  • Aprenda a reconhecer sinais de dificuldade respiratória em crianças
  • Para bebês, siga as recomendações para prevenção da SMSI (colocar para dormir de barriga para cima, em superfície firme, sem objetos soltos no berço)

Conclusão

A RCP pediátrica tem diferenças importantes em relação à RCP em adultos. Conhecer essas diferenças e saber aplicar a técnica correta pode salvar a vida de uma criança em situação de emergência. Lembre-se de que a RCP é uma habilidade que requer prática. Considere fazer um curso de primeiros socorros pediátricos para estar melhor preparado.

Em caso de emergência, mantenha a calma, peça ajuda e inicie a RCP o mais rápido possível. Mesmo que você não se lembre de todos os detalhes, lembre-se de que qualquer RCP é melhor do que nenhuma RCP.

Fontes

  • AMERICAN HEART ASSOCIATION. Pediatric Advanced Life Support Provider Manual. 2020.
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Suporte Básico de Vida em Pediatria. 2021.
  • EUROPEAN RESUSCITATION COUNCIL. Pediatric Life Support Guidelines. 2021.
  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Atendimento à Criança em Situações de Emergência. 2022.

Aviso: As informações contidas neste site são apenas para fins educacionais e não substituem orientação médica profissional. Embora nos esforcemos para fornecer informações precisas e atualizadas, não nos responsabilizamos pelo uso das informações aqui contidas. Em caso de emergência, sempre busque atendimento médico imediato.

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